Crítica: A Três Andares (dir. Bruca Teixeira)

Texto: Millena Brandão

Uma das características de “A Três Andares” que mais me chama a atenção é o jogo feito entre as imagens, legendas e trilha sonora. Tem um momento em que são mostradas cenas de fortes críticas sociais nas quais podemos identificar esse aspecto: na parte superior da tela, estão os bairros nobres de Maceió, enquanto que na parte inferior, os bairros desfavorecidos, jogados ao descaso social, retrato nítido da divisão de classes, cercados pela pobreza, lixo e exploração animal como forma de sobrevivência. A legenda acompanha a narração: quando se fala da realidade superior, ela está nessa parte da tela, o mesmo acontecendo com a realidade inferior. Nesse sentido, podemos dizer que a história foi muito bem introduzida, com uma boa apresentação da vida maceioense que não é vista na mídia, fazendo um comparativo com a vida que é vendida para os turistas, que nós sabemos bem como realmente é.

Após a contextualização local, embarcamos nos pensamentos da personagem em isolamento. O curta é inteiramente narrado enquanto as cenas casam-se com as palavras que estão sendo expressas. Se antes tivemos um contexto geral da vida por aqui (não só durante a pandemia), agora temos uma pessoa na sua individualidade, com suas inseguranças, problemas, questões… E teorias. Teorias da conspiração sobre a origem do Covid-19. Uma pessoa com problemas cardíacos, pertencente ao grupo de risco e que sofre de transtorno de imagem revelada, simplesmente lendo sobre teorias da conspiração! Dá para imaginar o turbilhão de pensamentos, medos, fobias que podem ser desenvolvidas, e sem dúvida foram, ao longo deste ano inteiro de isolamento. É algo que afeta não só a quem tem algum tipo de transtorno, mas também a quem está com sua saúde mental em dia (ou pelo menos estava). Numa consulta online, a terapeuta lança a seguinte questão: “De que maneira vale a pena viver em sociedade depois dessa grande mutação?” E a resposta, ao que tudo indica, é o amor. É olhar para dentro, se enxergar, para que o outro possa ser enxergado. O amor não fica explícito como resposta à pergunta, mas o texto, as cenas e as intenções da personagem falam por si só. É mais do que um filme sobre nossa atual realidade, é sobre seres humanos, ser humano, humanidade.

1 Comentário em Crítica: A Três Andares (dir. Bruca Teixeira)

  1. [* O plugin Shield Security marcou este comentário como “Trash”. Motivo: Teste Bot Falhado (expirado) *]
    Que texto lindo sobre uma obra realmente impactante e imperdível. O orgulho por nossas Artistas Alagoanas e a gratidão por suas Artes só cresce. <3

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*