Crítica: Subsidência (Dir. Beatriz Vilela e Marcus José)

Texto: Vinícius Silva Brandão. Revisão: Tatiana Magalhães.

Ruínas do sem Guerra em Múltiplos Fins de Mundos

Nesta XI edição da Mostra Sururu, em meio a tantos filmes que retratam, cada um de sua forma, a pandemia do Coronavírus, encontramos entre eles um que se afasta por não tecer comentários diretos sobre essa temática, é o curta Subsidência, dirigido e roteirizado por Beatriz Vilela e Marcus José.

Nesse sentido, ao término da obra, comecei a refletir sobre o motivo pelo qual os curadores escolheram esse filme para participar da “Mostra Oficial: Filmes do Fim do Mundo”, mesmo sem o curta falar diretamente sobre a pandemia, e cheguei à conclusão de que o fim do mundo já teria acontecido em Maceió, em um período anterior ao vírus.

Afinal, qual maior fim se não o de nossas lembranças, nossas histórias, nossos sorrisos? É isso que é bem retratado no curta de Beatriz e Marcus, que utilizam daqueles espaços reais, árduos, e ainda bastante dolorosos, para transmitir parcela do desespero e melancolia vividos por milhares de pessoas dos bairros do Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro, as quais tiveram que abandonar seus lares em razão da ganância e parasitismo da empresa Braskem, assim como dos sucessivos governos que a legitimaram.

Não só: foi tudo muito rápido, assim como tudo é rápido no filme. Do abalo sísmico para as rachaduras, das rachaduras para a destruição, da destruição para o fim de vários mundos particulares, como o da protagonista do curta (muito bem interpretada por Gessyca Geysa), que de um dia para o outro vê a destruição de seu mundo e reage da forma que encontra, correndo sem rumo em meio às ruínas de seu cotidiano.

E a trilha do filme ainda explicita: aquele local tem raízes mais profundas. As batidas do berimbau expõem que as vítimas da mineração têm cor definida, a preta, a mais exposta nesse jogo da necropolítica, que teceu – e continua tecendo – suas mais nefastas teias no ano de 2020, exacerbando as desigualdades e expondo ainda mais feridas não cicatrizadas, como a causada pela subsidência dos bairros de Maceió.

E assim continuamos, entre absurdos. A mineradora continua sua atividade, enquanto as pessoas esperam respostas para suas perguntas grafadas em cada muro de seus lares, de locais onde um dia cresceram e amaram, e que hoje, infelizmente, é exemplo do que de mais triste temos em Maceió.

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