Crítica: Encanto Desencanto Encanto (dir. Ulisses Arthur)

Texto: Luiz Henrique Carvalho. Revisão: Tatiana Magalhães.

(Des)encantadora pandemia

De Viçosa, interior de Alagoas, o filme Encanto Desencanto Encanto nos apresenta a reabertura de uma loja de vestidos de noiva num momento em que a pandemia já parecia incorporar-se à força na rotina. Numa ligação telefônica, a dona da loja lamenta o mofo nos vestidos esquecidos nas araras, porque nos últimos meses não houve festas para ter quem vesti-los. Porém, esperançosa, comemora os tímidos clientes que começaram a reaparecer aqui e ali.

É lavando, passando, varrendo e espanando que os três personagens preparam a loja para voltar ao funcionamento, restrito, claro, dentro das medidas de segurança necessárias. Personagens, inclusive, materializados na realidade: Jailma, a dona da loja, é mãe de Ulisses Arthur, diretor do filme, e de fato conduz os negócios de roupas em Viçosa.

O filme é uma explosão estética de cores, texturas e brilhos, com planos-detalhes nos diversos tecidos, joias, linhas e demais adereços da loja. Além disso, a trilha sonora de uma sanfona quase melancólica, além de nos fazer pisar firme na certeza de que estamos diante de um filme alagoano, portanto nordestino, cria uma atmosfera aconchegante aos olhos e aos ouvidos.

A sequência dos vestidos de noiva pendurados no varal é um dos ápices visuais do filme. Além de brilharem o alvo recém-lavado, contrastando com os tons escuros da alvenaria da casa, são uma metonímia de todos os momentos alegres que acabaram ficando para depois, acumulando mofo conosco em nossas casas.

Encanto Desencanto Encanto traz essa melodia melancólica de uma pandemia que aos poucos, sem avisar, como uma visita indesejada, incorpora-se a nossa rotina sem dar notícias de quando irá embora. De alguma forma, teremos que nos acostumar a ela, reabrir nossas portas, tirar o mofo daquilo que ficou esquecido, tudo muito cautelosamente para evitar riscos.

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