Crítica: Via Arterial (dir. Amon Nunes e João Paulo Macena)

Texto: Eudes Ferreira. Fonte: Oficina de Crítica Cinematográfica

Uma metáfora sobre umas das principais vias de maceió

Quem vive ou já foi em Maceió tem, no mínimo, 90% de chances de ter passado pela Avenida Fernandes Lima. Isso porque a alameda tem uma importante função de ligar bairros importantes, como o Centro, o Farol, o Pinheiro e todo o Tabuleiro – um conjunto de bairros. Via Arterial, documentário de Amon Nunes e João Paulo Macena, retrata as ruas de forma saudosa e emblemática nas tela do cinema.

O rádio entrou logo no início, tanto como uma forma de causar identificação ou de expressar costumes e tradições locais. Mas logo à frente ele também entra no debate sobre o trânsito, que tanto incomoda quem ali vive.

O que me chamou a atenção, a princípio, foi a escolha do título de cunho metafórico. O decorrer do documentário ajuda a explica-lo. Os bips – muito semelhante aos dos caminhões, semáforos e telefones dos prédios comerciais – nos remetem a um monitor multiparâmetro, é como se a avenida fosse, de fato, uma artéria, onde os carros, como o sangue, transitam interminavelmente num fluxo constante. A medida em que o documentário avança, as batidas se tornam mais frenéticas e a problemática do filme toma forma. Diante da modernidade das grandes capitais Brasil afora, não é difícil saber do que se trata esse problema.

O filme é narrado em off pelo professor de História da Universidade federal de Alagoas, José Roberto (vulgo Robertinho, e que foi meu professor). Os depoimentos de um ciclista, um gari, um agente de trânsito um taxista e um catador de latinhas enriquecem o documentário mais com a função de alertar e apontar as falhas condizentes a educação no trânsito do que de preenchê-lo com registros históricos – embora isso seja levemente lembrado pelo primeiro depoente – soando distante da primeira cena do filme, sugerindo se tratar de algo sobre a história da avenida. Problemas antigos, como a falta de planejamento e estrutura, educação no trânsito, entre outras, desencadeiam hoje as opiniões de quem convive na avenida por tanto tempo: falta espaço para tanto carro e as medidas tomadas para sua resolução estão sendo teorizadas somente agora.

E após todas as divagações, eis que chegamos à conclusão diante do problema: “a tendência da Fernandes Lima é ela se tornar inviável como corredor”. Em meio a crescente abrangência de consumo de carros e uma menor circulação de ônibus – as pessoas esperam bastante nos pontos – a tendência é que o que já era ruim, piore.

A edição de Via Arterial é muito competente. Todo o documentário se passa no trajeto entre o início da avenida Durval de Góis Monteiro e segue até a Praça do Centenário, do dia até a noite. Imagens urbanas ao som da estação de rádio local mostram uma forma inovadora de se trabalhar regionalismo e urbanidade, uma mistura pouco comum em filmes ambientados no Nordeste. A direção frenética, na mesma proporção que o trânsito, e a fotografia limpa exploram o colorido da arquitetura e do ambiente, revelando uma cidade viva e pulsante.

Apesar da direção e todos os méritos técnicos do filme, Via Arterial tem um quê de reportagem, ainda que mostre a que veio. Suas intenções não são a de se mostrar além do que se propõe. Isso pode frustrar quem assistir ao filme pela primeira vez. No entanto a composição meio saudosista da viagem pela avenida pode ser um recurso interessante para chamar-lhe a atenção – ainda que o rádio possa se tornar enfadonho lá pela metade do filme – como forma de mantê-lo atento a sua real mensagem: a artéria cujo fluxo poderá resultar em grave infarto, sob esse olhar, Via Arterial tem sua importância social.

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