Crítica: Você tem olhos tristes (dir. Diogo Leite)

Texto: Matheus Costa. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.

É demasiadamente incrível a capacidade de condensação que há no cinema. Um ano pode ter duração de 2 horas nas telas, ou 24 horas podem passar em 18 minutos, múltiplas possibilidades. Outra potencialidade neste processo é o poder reflexivo que um curta pode ter ao contar uma história tão simplória e naturalizada que não nos comoveria no dia a dia. Por isso o curta-metragem Você tem olhos tristes tem uma proposta interessante.

O filme mostra o cotidiano de Luan, bikeboy de Delivery. Às vezes, a vida urbana é tão caótica e acelerada que 24 horas não parece suficiente. Um emaranhado de acontecimentos que reduzem o tempo a vento. Entre os dilemas de um entregador de aplicativo está ser paciente e aceitar os absurdos que vão acontecendo, ora uma cliente reclama do atraso ao entregar o lanche, sem a menos comiseração, ora um ataque com faca. Além disso, a vida na cidade traz obstáculos, em certas ocasiões, imperceptível aos olhos. Experiências cotidianas que tornam horas em minutos, e minutos em segundos.

A sequência de fatos nos prepara para a descarga final do filme, uma oscilação entre mais tensão e menos tensão é importante para isso. Além disso, faz com que o espectador penetre no curta-metragem. O jantar é peça-chave, pois o uso do campo/contracampo faz com que o espectador entre no diálogo e sinta as emoções imanentes, ajudando na proposta reflexiva da obra. O conteúdo da conversa é significativo para a narrativa, visto que foi feito de forma crítica e mimética. O episódio que ocorreu anterior ao jantar, que só se sabe ao ouvir o papo na mesa, é intrigante, em virtude de evidenciar a hipocrisia.

O final é categórico. Todas as circunstâncias que aconteceram no decurso do curta são importantes para tornar o fim simbólico. Ao longo do filme, a figura de Luan é silenciada, até nos momentos mais absurdos e constrangedores. Fato interessante foi a escolha de Luan mandar um vídeo em vez de optar pelo diálogo presencial. Uma voz que não é ouvida, procura outra forma de dizer.

Be the first to comment

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*