Texto: Larissa Lisboa
Enquanto escrevia o texto “Era uma vez, um Edital de Incentivo à Produção Audiovisual em Alagoas” fui visitada em vários momentos pela minha impostora, que além de me trazer inseguranças também agia como representante do mercado e me cobrava a provar o valor das obras de arte ou a dimensionar o alcance que os filmes alagoanos tiveram ao longo da última década.
Sinceramente eu não acredito que a arte precise se provar, e como uma mulher branca privilegiada, pude escolher investir (tempo e dinheiro) na minha relação com a arte ao longo da maior parte da minha vida. Mas apenas recentemente consegui desaprender o que me pregaram de que a arte tinha que me dar sustento, e de que só valia dar vazão a minha criatividade se fosse para ter reconhecimento.
A arte sempre foi vida para mim, quando apreciando a criação das outras pessoas, e principalmente ao dar vazão, corpo e voz ao que eu desejava e precisava expressar.
Para concluir o meu ponto de vista, antes de buscar entregar o que o mercado cobra, não acredito que o valor de uma obra de arte de fato seja definido, e acredito que é possível, prudente e democrático abrir mais espaços e dar ainda mais incentivos e reconhecimentos do que se é dado.
Vou buscar apresentar aqui um resumo da circulação de filmes alagoanos em Mostras e Festivais, mas desejo ver essa trajetória e outras memórias e histórias do cinema alagoano contadas por quantas vozes desejarem contá-las.
Utilizarei como base as informações que temos aqui no Alagoar, que tenho conhecimento de que podem estar desatualizadas, portanto caso você tenha atualizações para nos informar entre em contato pelo e-mail audiovisualagoas@gmail.com . Compartilhamos com as pessoas responsáveis pelas ações e obras audiovisuais realizadas em Alagoas o empenho em registrar as informações e memórias, mas por conta própria não temos como garantir a atualização de todas as informações que dispomos, sendo assim toda e qualquer colaboração faz diferença.
Entre 2010 e 2022, os editais de incentivo público em Alagoas (recursos provenientes das Prefeituras de Maceió e Arapiraca, e do Governo do Estado de Alagoas) se propuseram a viabilizar a feitura de 82 curtas-metragens, 9 longas-metragens, 10 telefilmes, 10 formações/capacitações e 1 série (ao final deste texto listo por ano essas informações).
Devido a pandemia de Covid-19 os projetos aprovados nos editais de 2019 tiveram seu período de realização postergado e por isso boa parte destas obras ainda estão em processo de produção.
Contextualizo também que no caso de longas-metragens e telefilmes o tempo de repasse do recurso pela ANCINE só tem início após a conclusão do pagamento dos valores sob responsabilidade das gestões locais (contrapartidas), o que em muitos casos resultou em atrasos, que foram somados a outros pormenores dos trâmites individuais de cada uma dessas obras.
Então, até o momento, apenas um dos nove longas foi lançado, Cavalo (dir. Rafhael Barbosa e Werner Salles), estando os demais em etapas de produção e/ou finalização. Também estimo que estejam em etapas de produção e/ou finalização sete dos dez telefilmes.
Conforme indicado no texto do Edital do Audiovisual de Maceió 2019, telefilme é uma obra audiovisual “com no mínimo 50 e no máximo 120 minutos de duração, produzida para primeira exibição em meios televisivos, encerrada em si mesma, e exibida de forma não fragmentada em capítulos”.
A partir da criação do perfil do Alagoar no Instagram passamos a disponibilizar em nosso story espaço para divulgar seleções e premiações de filmes produzidos e realizados por pessoas alagoanas ou residentes em Alagoas, e mantemos esse conteúdo reunido em nosso perfil em favoritos.
Por se tratar de recurso federal não abordaremos neste texto os projetos contemplados pelo edital Elinaldo Barros realizado em 2020 via Lei Aldir Blanc.
Partimos do registro de 40 curtas que identificamos informações em nosso site como já exibidos, do longa Cavalo e da realização das capacitações Estação Navi e BR Lab Arapiraca.
Para não deixar de mencionar a importância das capacitações destaco que Estação Navi e BR Lab Arapiraca tiveram participantes da cidade de Arapiraca e de outras cidades, o Estação Navi foi voltado para produção de documentário e o BR Lab Arapiraca para consultoria de roteiros. 11 projetos participaram do BR Lab Arapiraca, 2 já haviam sido contemplados no Edital de Fomento ao Audiovisual – ANCINE / PMA – Cine + Arapiraca (2019) e 2 foram contemplados no V Prêmio de Incentivo à Produção Audiovisual em Alagoas (2021).
Ajustando o foco para a circulação de filmes alagoanos de curta duração realizados com recursos de editais de incentivo locais, explico que analisei os dados dos 40 filmes e escolhi elencar aqui aqueles que circularam em mostras e festivais de outros estados ou lugares além de Alagoas. Não apenas porque se dá mais valor ao reconhecimento externo do que ao local, mas principalmente porque para dimensionar o quanto esses filmes foram exibidos em Alagoas seria necessário desenvolver uma pesquisa específica.
Ressalvo que as pessoas responsáveis pelos filmes não têm a obrigação de inscrevê-los em Mostras e Festivais de fora de Alagoas, o fazem quando podem e na medida que podem. A título de aprendizado acredito que seria rico saber quantas inscrições foram feitas no total para entender quantas vezes o filme foi escolhido ou invisibilizado. E também acho construtivo ressalvar que as curadorias não têm o compromisso de validar os filmes, sendo assim o reconhecimento que advém das seleções representam o resultado da escolha das pessoas que foram empoderadas pelos eventos, do conjunto de obras analisadas naquele momento, assim como também do perfil de cada evento, em caso algum definem o valor de um filme.
Contabilizei segundo o registro dos 40 curtas no Alagoar que 23 deles foram selecionados em Mostras e Festivais fora do estado, são eles: Km 58 (dir. Rafhael Barbosa, 2011), Exu – Além do Bem e do Mal (dir. Werner Salles Bagetti, 2012), O que lembro, tenho (dir. Rafhael Barbosa, 2012), Rua das Árvores (dir. Alice Jardim, 2013), Ontem à noite (dir. Henrique Oliveira, 2013), O Vulto (dir. Wladymir Lima), Jorge Cooper (dir. Victor Guerra Araújo, 2013), Atirou para Matar (dir. Nuno Balducci, 2014), Wonderfull – meu eu em mim (dir. Dário Jr., 2016), As Melhores Noites de Veroni (dir. Ulisses Arthur, 2017), Avalanche (dir. Leandro Alves, 2017), Os Desejos de Miriam (dir. Nuno Balducci, 2017), Besta Fera (dir. Wagno Godez, 2018), Alano (dir. Sílvio Leal e Henrique Oliveira, 2019), Como ficamos da Mesma Altura (dir. Laís Santos Araújo, 2019), Trincheira (dir. Paulo Silver, 2019), O Poeta do Barro Vermelho (dir. Matheus Nobre, 2019), O Branco da Raiz (dir. Anderson Barbosa, 2019), Nas Quebradas do Boi (dir. Igor Machado, 2019), Tambor ou Bola (dir. Sérgio Onofre, 2019), Ainda te amo demais (dir. Flávia Correia, 2020), A Barca (dir. Nilton Resende, 2020) e O Retirante (dir. Tarcisio Ferreira, 2020). O longa Cavalo (dir. Rafhael Barbosa e Werner Salles Bagetti, 2020) também foi selecionado fora do estado por Mostras e Festivais.
Pelo que temos registrado de seleções ou convites para exibição destes 23 filmes fora do estado a partir das páginas de cada um deles no Alagoar, contabilizo mais de 260 seleções em Mostras e Festivais, sendo 75 destas internacionais.
Fiquei tentada a listar aqui todos os eventos, mas como acredito que dificultaria a compreensão vou optar por listar aqui os eventos nos quais os curtas realizados a partir de editais de incentivo locais estiveram presentes em mais que uma edição ou mais que um filme alagoano por edição, foram eles: Curta Brasília (4 filmes alagoanos presentes em edições), Mostra do Filme Livre (4), MOSCA – Mostra do Audiovisual de Cambuquira (3), Curta Cinema — Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro (5), Goiânia Mostra Curtas (4), Comunicurtas (2), Curta Taquary (7), Sercine – Festival Sergipe de Audiovisual (4), Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade (2), Festival Internacional de Cinema da Fronteira (2), Mostra de Cinema Contemporâneo do Nordeste (3), FestCurtasBH – Festival internacional de curtas de Belo Horizonte (2), Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo – Curta Kinoforum (4), Mostra de Cinema de Tiradentes (4), Festival de Cinema de Caruaru (3), Curta na Serra (2), Festival Mimoso de Cinema (2), 3º FECSTA – Festival de Cinema de Santa Teresa (2), Cinefest Gato Preto (2), Cine Tamoio Festival de Cinema de São Gonçalo (2), Cindie Festival (2), CineFest São Jorge (2), Mostra [em]curtas (2), Seridó Cine (2), Cine Jardim (2), Festival In-Edit (2), Festival de Cinema Sol Maior e Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (2).
Listei algumas dezenas e ainda fico com a angústia de não mencionar algum que não poderia deixar de mencionar. Poderia ter focado em mencionar apenas os festivais e mostras classificados como mais relevantes (sim, eles também são classificados como pequeno, médio ou grande porte), mas o meu compromisso é por apresentar uma narrativa que tenha brechas e que abrace mais informações mesmo que não dê conta de abraçar tudo.
Ao menos um dos filmes alagoanos que mencionei acima marcou presença nestes eventos: CINE PE, Cine Ceará, Festival Visões Periféricas, Festival de Cinema de Brasília, Janela Internacional de Cinema, Mostra de Cinema SESC (Mostra Nacional), Festival de Cinema de Vitória, Festival de Cinema de Gramado, Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, Festival Internacional de Animação do Brasil – Anima Mundi, Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul e CachoeiraDoc.
O longa Cavalo já ultrapassou vinte seleções em Mostras e Festivais, teve estreia nas salas de cinema, e é o primeiro longa alagoano realizado a partir de um edital de incentivo a participar deste circuito. Também está (ou esteve) na grade do Canal Brasil. Não tenho condições e não sei se terei de dimensionar o impacto da trajetória de Cavalo, mas deixo aqui a provocação caso alguém leia e se sinta em condições de fazer isso.
Uma diferença sentida por quem acompanha a produção audiovisual alagoana e que acompanhou algum dos curtas e também acompanhou Cavalo foi o volume de textos críticos dedicados a este filme alagoano, um fato que destaco não apenas por indicar reconhecimento deste trabalho, mas pela ausência de produção de textos críticos que abracem sistematicamente os curtas metragens alagoanos e brasileiros. Aproveito para informar que temos textos produzidos por colaboradores do Alagoar a respeito de alguns dos filmes mencionados aqui e deixo o link para quem quiser conferir.
Acho essencial frisar que o recurso destinado a curtas metragens teve os seguintes valores: R$ 15.000,00 (2011), R$ 20.000,00 (2012), R$ 30.000,00 (2013/2014) e R$ 50.000,00 (2016/2017). Já os filmes na lista mencionada anteriormente com anos de produção entre 2018 e 2020 tiveram R$ 59.000,00 como orçamento pelo edital. A título de referência a maior faixa de valor praticada em edital de curta-metragem local é R$ 90.000,00. Em 2022, orçar a realização de um curta-metragem com R$ 90.000,00 implica em reduzir remunerações de pessoas, serviços e materiais para valores abaixo da média do mercado.
As pessoas responsáveis pelos filmes se desdobraram para realizá-los a partir do recurso disponível pelo incentivo público e quem está aberto a analisar pode facilmente compreender que é inviável que seja possível cobrir com qualquer um desses orçamentos mencionados a divulgação e difusão destas obras.
Para as pessoas responsáveis pelos filmes que se dispõe a inscrever sua obra em Mostras e Festivais, a busca é por inscrever na maior quantidade de mostras e festivais possíveis, independente do tamanho do evento. Em muitos casos há o empenho em conseguir estrear os seus filmes em algum evento que considere dialogar mais com a sua obra ou que acredite que possa impulsionar a trajetória dela.
Ressalvo que nos últimos anos muitos outros filmes alagoanos além destes que mencionei acima circularam em Mostras e Festivais, entre filmes realizados em ações formativas, com recursos próprios ou outras fontes de recurso que não o incentivo público local.
Ao visitar a página dos filmes catalogados aqui no site é possível observar as seleções de cada um deles assim como também as premiações. Optei por focar apenas nas seleções porque a premissa deste texto é dimensionar o quanto os filmes alagoanos incentivados a partir de editais locais marcaram presença em eventos fora do estado, independente de terem tido prêmios, destaques ou outros reconhecimentos. Presença que implica no filme representar e divulgar o estado voluntariamente, com recursos próprios do responsável, e na maior parte das vezes, sem qualquer assistência dos gestores locais.
Levantamento dos valores investidos por editais de incentivo municipais ou estaduais em Alagoas:
2010 – 5 curtas-metragens – total: R$ 75.000,00 SECULT
2011 – 5 curtas-metragens – total: R$ 100.000,00 SECULT
2013 – 5 curtas-metragens – total: R$ 150.000,00 SECULT
2013 – 5 curtas-metragens – total: R$ 150.000,00 FMAC
2015 – 6 curtas-metragens e 1 longa-metragem – total: R$ 900.000,00, sendo R$ 300.000,00 da FMAC e R$ 600.000,00 da ANCINE
2016 – 17 curtas-metragens, 2 longas-metragens e 2 telefilmes – total: R$ 3.003.000,00, sendo R$ 1.003.000,00 da SECULT e R$ 2.000.000,00 da ANCINE
2018 – 3 curtas-metragens – total: R$ 30.000,00 Prefeitura Municipal de Arapiraca
2019 – 8 curtas-metragens, 2 telefilmes e 2 formações – total: R$ 1.050.000,00, sendo 150.000,00 da Prefeitura Municipal de Arapiraca e R$ 900.000,00 da ANCINE
2019 – 12 curtas-metragens, 3 longas-metragens, 3 telefilmes, 3 festivais, 4 capacitações e 8 cineclubes – total: R$ 6.000.000,00, sendo R$ 1.000.000,00 da FMAC e R$ 5.000.000,00 da ANCINE
2021 – 16 curtas-metragens, 3 longas-metragens, 3 telefilmes, 01 série e 4 cursos de formação – total: R$ 7.825.000,00 sendo R$ 1.000.000,00 da SECULT e R$ 6.825.000,00
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