Quatro filmes alagoanos são selecionados para a 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes

Texto: Jamerson Soares. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem de destaque: Jackson Romanelli/Universo Produção. Demais imagens: divulgação.

Samuel Foi Trabalhar’, ‘O Canto’, ‘Habito’ e ‘Diafragma’ serão exibidos durante o evento entre os dias 19 e 27 de janeiro

A 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes começa na próxima sexta-feira (19) com uma programação extensa e interativa para todos os públicos, do infantil ao adulto, recheada de oficinas, exibições de curtas e longas-metragens brasileiros, palestras, fóruns, seminários e apresentações artísticas. E Alagoas não fica fora dessa. Quatro filmes produzidos em terras alagoanas foram selecionados e serão exibidos durante o evento.

Entre os escolhidos, está o curta “Samuel Foi Trabalhar”, dir. Janderson Felipe e Lucas Litrento, que foi finalizado recentemente e terá sua grande estreia na Mostra Tiradentes, dentro da lista de filmes da mostra Panorama. O curta de 17 minutos é uma ficção que mostra a trajetória de Samuel, um trabalhador informal que esta às vésperas de ser contratado, porém é assombrado por seu instrumento de trabalho: a fantasia de engenheiro.

Imagem de divulgação do filme “Samuel foi Trabalhar”

Segundo Lucas Litrento, que é cineasta desde 2019, a criação do filme começou nesse mesmo ano com recursos provenientes de um edital da Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC). Porém, com a pandemia, a produção teve que ser paralisada. “A pandemia parou tudo. Só voltamos no começo do ano passado. Nosso filme faz parte dessa leva de projetos de editais que foram estagnados durante a pandemia e que hoje, enfim, ganham as telas”, relatou ele.

Ele disse também que está com altas expectativas para a exibição do curta. “Espero que essa estreia marque o início de uma carreira bem massa pro filme. O cine-tenda tem uma tela enorme, espero que tenha uma galera pra prestigiar nosso filme, e que nossas imagens reverberem bem nesse início de ano. De todos os desafios, um dos principais foi o da readequação dos filmes a partir dessa nova realidade pós-pandemia. É um alívio e também uma espécie de grito”.

Outros três filmes alagoanos estarão nas telinhas de Tiradentes. São eles: “O Canto”, dir. Izabela Vitório e Isadora Magalhães, selecionado para a Mostra Foco; “Habito”, dir. Fernando Santos, que estará na categoria Curtas na Praça; e “Diafragma”, dir. Robson Cavalcante, incluso na Mostrinha de Cinema, que é voltada para o público infantil. Estes três trabalhos foram também exibidos durante a programação da 14ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano, em dezembro de 2023.

Para Fernando Santos, a participação de seu filme na Mostra Tiradentes é uma porta que se abre, já que ele está cursando cinema na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB).

“A ficha ainda não caiu. Estou muito ansioso e acredito que só vou ter noção quando o filme rodar pelo Brasil e espero que também pelo mundo. Percebo que estou seguindo o caminho certo, ouvindo as pessoas, os amigos que fiz no audiovisual, que são pessoas que de fato estão junto para somar”, disse o cineasta, que tentou fazer engenharia da computação, mas não se identificou, e que desde 2018 se envereda pelos caminhos do audiovisual.

“Habito” relata a história de um homem negro, pobre e gordo em busca do sonho de ser cineasta, enfrentando desafios acadêmicos e pessoais após a mãe ser diagnosticada com câncer de mama. Uma trama documental que mistura ficção e realidade, e que, segundo Fernando, é fruto de todas as outras obras que ele já fez e das imagens de sua mãe.

Imagem de divulgação de “Habito”

“O filme começou muito antes, no ano de 2018, quando meu primo, me incentivando, comprou uma câmera para mim. Algumas das imagens que estão no filme são dessa época. Ele foi selecionado na Aldir Blanc em 2020, se não estou enganado, e teve maturação de mais ou menos um ano, onde estive do lado de Rafhael Barbosa e Amanda Duarte, trabalhando em um rascunho de roteiro”, contou o cineasta, que também relatou que a primeira versão da obra seria uma ficção, mas por conta do pouco recurso, houve a decisão de realizar um documentário híbrido.

O cineasta Robson Cavalcante, que atua na área desde 2016, contou que a ideia da animação “Diafragma” surgiu quando ele estava fazendo sua pesquisa de TCC, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), sobre o ensino da música para pessoas com deficiência visual. Após visitas frequentes a instituições de reabilitação para ouvir histórias dessas pessoas, como também o apoio amigos do audiovisual, como Rafhael Barbosa, Renah Berindelli e Maurício Nunes, o filme criou forma.

“Foi um projeto desafiador, considerando as dificuldades de fazer animação 2D com poucos recursos e equipe enxuta. Também foi bastante desafiador falar de forma leve sobre um tema sensível como a cegueira, mas, a julgar pelos feedbacks que recebemos, acredito que chegamos a um resultado interessante. Estamos muito felizes com o resultado”, disse Robson.

Cavalcante acredita que a participação do filme na Mostra Tiradentes é uma grande conquista. “A Mostra Tiradentes é uma importante janela do audiovisual e possibilita que pessoas de diferentes lugares do país tenham acesso ao filme (que aliás, conta com recursos de acessibilidade). Espero que, de alguma forma, a carreira do filme ‘Diafragma’ incentive a produção de novas animações alagoanas”, concluiu.

Alagoana no Júri Jovem

O cinema alagoano também tem outra importante participação na Mostra Tiradentes. Marina Bonifácio, de 23 anos, é uma das cinco pessoas selecionadas para compor o Júri Jovem. Eles têm o objetivo de eleger o filme vencedor da Mostra Olhos Livres, que será agraciado com o Prêmio Carlos Reichenbach.

Marina, que é cineasta desde 2018, contou que a seleção para o júri foi realizada durante a Oficina de Análise de Estilos Cinematográficos, ministrada por Juliano Gomes na 17ª Mostra Cine BH. É a primeira vez que Marina participa da mostra e, para ela, é uma felicidade fazer parte da construção de um novo horizonte social para pessoas trans e travestis.

“Fico feliz, não só por mim, porque eu não ando sozinha. Meu corpo é corpo coletivo. Minhas ideias são ideias coletivas. Minha voz é voz coletiva. E, digo com certeza, que minha participação na mostra é coletiva. Será a minha primeira experiência num festival de cinema fora do meu estado e, logo de cara, vai rolar num festival tão importante e especial”, disse ela.

A cineasta também disse que passou o ano de 2023 discutindo e refletindo sobre o cinema trans e travesti junto com outras pessoas trans e travestis em Maceió. Para ela, falar sobre trabalho é um tópico sensível. “E trabalhar com cinema, inicialmente, soa como uma ideia distante porque, apesar do cinema brasileiro parecer diverso, é um mercado profissional que, também, reforça um lugar de precarização para pessoas dissidentes”.

Ela acredita que sua participação na Mostra Tiradentes é um movimento de abertura de caminhos e que a contribuição de pessoas trans para o cinema é extremamente valiosa. “É massa pensar sobre as formas do tempo, o tema da edição da Mostra Tiradentes deste ano, e pensar que o tempo para pessoas trans é quase uma bomba relógio. Então, acho bonito que pessoas como eu possam participar dessa discussão. É sobre construir ideias, reflexões e, na real, ter um lugar na mesa. E esse lugar é essencial”, pontuou.

Mostra Tiradentes

Este ano, a temática da 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes será “As formas do tempo”, um mergulho profundo no cinema brasileiro contemporâneo, com questionamentos sobre o presente histórico cinematográfico, a partir da reflexão pausada sobre os tempos e temporalidades que permeiam nossos filmes e narrativas. Ao todo, foram selecionados 145 filmes de 20 estados brasileiros.

O evento gratuito será realizado entre os dias 19 e 27 de janeiro de 2024, e tem como homenageados o cineasta André Novais Oliveira e a atriz Barbara Colen.

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