Texto: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.
Assisti pela primeira vez a O Lugar que Somos (dir. Laryssa Andrade) e fiquei admirada por me sentir envolta pela poesia que costura as memórias registradas e compartilhadas pela diretora Laryssa Andrade. O reassisti mais duas vezes com o intuito de vir aqui escrever sobre este filme, encarando a insegurança de se conseguirei responder a maturidade que reconheço na feitura dele, de forma racional, poética e expansiva.
O Lugar que Somos fala do lugar das Andrade, costureiras que passaram e passam conhecimento sobre esta prática entre elas. É um filme que transborda afeto, ao costurar através do som e das imagens um percurso que nos leva a conectar-nos com os relatos de Meran Andrade, Selma Alves e Vilma Alves, que na emenda entre suas memórias nos apresentam a relação das Andrade com a costura como um conhecimento que foi aprendido vendo o processo de feitura no dia a dia.
Este é o primeiro filme de Laryssa Andrade que assina a direção, roteiro, fotografia e montagem, o fato dela ter assumido e somado estas funções reforça a potência da intimidade que podemos acessar através de anotações, desenhos de roupas, livros de costura, roupas, fotografias, entre outros elementos de mulheres que ela conviveu/convive. Vislumbramos esta coleção de memórias com poesia a partir dos enquadramentos de Laryssa que se tornam conectados mesmo quando completamente distintos. Destaco em específico a cena em que podemos ver as mãos da costureira, que me deixou com vontade de seguir observando ela por mais um tempo.
Em sua conclusão O Lugar que Somos explicita o seu papel expositivo, quase como se pudesse ser contemplado como uma exposição multimídia (naquele momento ou por completo), em um diálogo também com o registro de um inventário que estava sendo gestado, e presente, mas só se torna translúcido quando Laryssa adiciona legendas junto às relíquias das Andrades.
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