52 obras audiovisuais alagoanas dirigidas por mulheres

Estimo que é possível encontrar no Catálogo de Produções Audiovisuais Alagoanas em nosso site, mais de 100 obras audiovisuais alagoanas com mulheres na direção disponíveis online, considerando neste cálculo a presença das mulheres também em filmes com direção coletiva – compreendendo como coletiva quando há quatro ou mais pessoas na direção. A localização destas obras ainda depende de que o visitante do Alagoar as procure – seja ao pesquisar pelo nome das autoras ou outras pessoas da equipe, ou pelo título do filme-, ou que navegue pelas 79 páginas do nosso catálogo.

O mapeamento das obras audiovisuais alagoanas é uma pesquisa que tem como fontes: o livro Panorama do Cinema Alagoano, de Elinaldo Barros; o registro de filmes participantes de mostras e festivais em Alagoas e fora do estado; o repasse de dados pelo formulário de cadastro de produção audiovisual em nosso site, pelo e-mail audiovisualagoas@gmail.com ou pela redes do @alagoar.

Neste que é o sétimo ano do Alagoar, foi alcançada a marca de 786 obras audiovisuais alagoanas catalogadas (somando filmes, videoclipes, séries e coleções), das quais estão on-line 370 filmes, 7 séries e coleções e 139 videoclipes. Uma vez que contamos com colaborações por demanda, a atualização e revisão destes dados apresenta pendências. Por isso a colaboração do público e das pessoas trabalhadoras do audiovisual alagoano faz a diferença para corrigir, complementar ou possibilitar novas adições. Há muitos filmes alagoanos que ainda não estão disponíveis online, nem catalogados no Alagoar, por isso não estranhe caso identifique que alguma obra audiovisual alagoana dirigida por mulheres (alagoanas e/ou residentes em Alagoas) não esteja em nosso catálogo. Caso possa colabore nos informando ou repassando o formulário de cadastro para a equipe da obra.

Ainda é comum e recorrente pensar em obras audiovisuais dirigidas por homens como naturais referências seja em nível mundial, nacional ou regional. Uma vez que a maior parte dos espaços no audiovisual no mundo ainda são mais acessíveis à homens cisgênero brancos. Caso você tenha facilidade em apontar mais que uma dezena de obras audiovisuais brasileiras dirigidas por mulheres nos últimos cinco anos, este é um sinal não só de que você está exercitando a sua curiosidade com foco na diversidade, como de que a luta pela equidade consegue garantir que a presença e ausência de pessoas negras, indígenas, da comunidade LGBTQIAP+ e das mulheres hoje em qualquer espaço e medida possa vir mais agilmente à tona em nossos feeds e em nossas percepções

Acredito que é uma responsabilidade de cada pessoa e de todes estar em desacordo com a invisibilização da pluralidade, uma vez que todas as pessoas podem apontar homogeneizações de referências, acesso, espaços e poder, então como ver sentido em se calar e colaborar com a manutenção de privilégios para poucos? Sem mencionar que a manutenção de uma sociedade plural e democrática está alinhada com a equidade.

Em Alagoas, por exemplo, é preciso garantir e incentivar a presença das pessoas negras, indígenas, da comunidade LGBTQIAP+ e das mulheres nas criações artísticas, como também é o caso de outros estados em nosso país. Um indicador palpável é o de que apenas em 2019 foi realizado o primeiro edital de incentivo à produções audiovisuais em Maceió com política de cotas étnicas raciais e de gênero (Edital do Audiovisual de Maceió 2019). Foi contabilizado também a presença de marcadores étnicos e de gênero nos editais realizados pelo governo de Alagoas via Aldir Blanc em 2020, no entanto, não houve divulgação dos dados coletados junto as pessoas inscritas referente a autodeclaração de raça e gênero, nem a mensuração do percentual de projetos com homens cisgênero brancos contemplados, ou das demais presenças raciais e de gênero.

Na breve pesquisa que fiz para elaboração do texto Panorama do incentivo público à produção audiovisual em Alagoas pude observar que o volume de projetos com autoria de mulheres contemplados apenas em 2019 foi equivalente a 50% do total de projetos com autoria de mulheres contemplados nos editais realizados entre 2010 e 2018. E isso foi devido a vários fatores, entre eles o aumento do número de  projetos contemplados, que em 2019 foi quase sete vezes maior do que o dos primeiros editais de incentivo dos anos 2000 que contemplavam apenas cinco projetos.

Acho relevante frisar que no Edital do Audiovisual de Maceió 2019 a priorização de projetos com profissionais negros ou indígenas, de mulheres cisgênero, pessoas transsexuais/travesti na função de direção, estava clara no texto do edital, e figurou como clausula guia para o público e para as pessoas que compuseram a comissão de pareceristas.

As mulheres atenderam ao chamado do Edital do Audiovisual de Maceió 2019 e conquistaram mais espaços nas categorias de projetos do que o mínimo. Reforço que para aprofundar a análise do impacto da forma que este edital convocou pessoas negras, indígenas, mulheres cisgênero, pessoas transsexuais e travestis, é essencial ter acesso a informação de quantos projetos foram inscritos em cada um desses marcadores, assim como os referentes aos contemplados.

No entanto, mesmo sem ter como acessar os dados sobre autoria dos projetos contemplados e inscritos nos editais de incentivo já realizados em Alagoas, em meio à escassez de incentivos para mapeamento das pessoas trabalhadoras do audiovisual alagoano e desenvolvimento de pesquisas para mensurar as presenças e ausências nas produções audiovisuais alagoanas, ouso constatar que nas listas dos projetos contemplados nos editais de incentivo realizados em Alagoas entre 2019 e 2021 os nomes das trabalhadoras do audiovisual alagoano foram ainda mais plurais e se fizeram presente com maior representatividade na maioria das categorias ou faixas, com algumas poucas exceções.

E mesmo que siga sendo mais fácil invisibilizar do que visibilizar, hoje podemos buscar dados e força para desconstruir a naturalização das referências homogêneas. Podemos nos apoiar nas presenças e nos permitir celebrá-las, sejam as mencionadas anteriormente, as que vem a seguir ou nas obras que listo como conclusão deste texto, ou as que pecarei em não mencionar.

Em 2020, 15 filmes entre os 30 selecionados para a 11ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano contaram com a presença de mulheres na função da direção, o que impulsionou a escrita do texto [Carta] Às mulheres que estiveram, estão e estarão na Mostra Sururu de Cinema Alagoano. Mais ou menos 26% por cento dos filmes selecionados para a Mostra Sururu nas suas doze edições foram dirigidos ou codirigidos por mulheres, este percentual sobe para 35% caso sejam adicionadas a presença das mulheres também em filmes com direção coletiva.

Neste primeiro trimestre de 2022 já foi compartilhado pelo perfil do Alagoar no Instagram quatro filmes com mulheres na direção que foram selecionados em mostras e festivais fora de Alagoas, são eles: A gente foi feliz aqui (2021, dir. Renata Baracho e Paulo Accioly), Inanna (2021, dir. Amanda Môa, Juliana Barretto, Luiza Leal, Mayra Costa, Reginaldo Oliveira, Renah Berindelli, Renata Baracho e Valéria Nunes), Nazo dia e noite Maria (2021, dir. Andréa Paiva) e Sem Registro (2022, dir. Vivian Oliveira).

Acredito que é importante compartilhar informações sobre empoderamento e diversidade, além de provocar diálogos. Aprendi o valor de escolher atentar para o que está em foco e para o que se opta desfocar. Exercito me guiar a ver o mundo a partir da presença e ausência das pessoas negras, indígenas, da comunidade LGBTQIAP+ e das mulheres, me permitindo estar como uma pesquisadora e trabalhadora do audiovisual consciente da minha responsabilidade como uma aliada no combate a manutenção de privilégios.

Busco acompanhar os filmes que estreiam nas plataformas de streaming ou que são exibidos em mostras e festivais online priorizando os filmes dirigidos por mulheres. Acredito que o acesso aos filmes com autoria de mulheres fica mais fluído quando há uma aba ou categoria indicando a presença de diretoras e/ou roteiristas, ou pautando o protagonismo feminino na frente ou por trás das câmeras. Por isso celebrei quando vi que o filme alagoano Como ficamos da mesma altura (dir. Laís Araújo) adicionado na estante #52FilmesPorMulheres do SPCine Play em 2021 e me provoquei a construir uma lista com 52 obras audiovisuais alagoanas dirigidas por mulheres.

#52FilmsByWomen é uma campanha da organização Women in Film and Television, que busca estimular a prática de assistir pelo menos um filme por semana dirigido por mulheres a cada uma das 52 que compõe o ano.

Para que possamos assimilar o fluxo da presença das alagoanas na autoria de obras audiovisuais, busquei reunir filmes que estão disponibilizados online e que foram realizados por estudantes universitárias, alunas de oficinas, realizadoras independentes e/ou contempladas em editais. Priorizei evitar repetir diretoras, encarando o desafio de colocar apenas um ou duas obras daquelas que possuem mais títulos realizados.

Seria possível fazer a lista com as mais de 100 obras audiovisuais dirigidas por mulheres e nelas constaria a filmografia de algumas de nossas autoras alagoanas, inclusive a minha, no entanto, deixo essa dívida, pelo desejo de estudar uma forma de organizar e disponibilizar num futuro esse conteúdo de forma diferenciada.

Filmes dirigidos ou codirigidos por mulheres

Penedo Mon Amour (1995, dir. Aline Marta dos Santos Maia e Jeder Janott)
Carlos Moliterno – Poeta Alagoano (1996/99, dir. Arla Coqueiro e Cláudio Manoel Duarte)
Bate Ferro (2004, dir. Glauber Xavier, Marcelo Dogat e Márcia Danielli)
Contracosta (2004, dir. Clarice Novaes da Mota, Núbia Michella e Verônica Amaral Gurgel)
Yaraguá (2004, dir. Danielle Silva e Fátima Ramalho Maia)
Borboletas (2005, dir. Dalva de Castro)
Infância no Sertão (2006, dir. Maria do Carmo Silva Ferreira)
Mestre Benon, o Treme Terra (2006, dir. Nicolle Freire e Celso Brandão)
A Paisagem e o Movimento (2007, dir. Alice Jardim)
Anda Zé Pequeno Anda (2008, dir. Kátia Regina, Cássia Rejane e Bruna Rafaela)
Caminhos da Juventude (2008, dir. Glaciene Ferreira)
Debaixo da luz do sol (2008, dir. Maya Millán)
Marechal Terra dos Músicos (2008, dir. Lenilson Santos e Tássia de Souza)
Nas Margens (2008, dir. Súrya Namaskar e Tamires Pedrosa)
Areias que Falam (2009, dir. Arilene de Castro)
Dj do Agreste (2009, dir. Regina Célia Barbosa)
Nome, idade, profissão, onde mora (2009, dir. Viviane Vieira)
As ilhas da minha vida (2011, dir. Zezinha Dias)
Brêda (2013, dir. Trinny Alarcon)
Maré Viva (2013, dir. Alice Jardim e Lis Paim)
Menina (2013, dir. Amanda Duarte e Maysa Reis)
Mestra Hilda do Coco (2013, dir. Cintia Ribeiro e Celso Brandão)
Missi (2013, dir. Lays Lins Calisto)
Geração Z Rural (2014, dir. Melina Vasconcelos)

Relicários de Zumba (2014, dir. Vera Rocha)
Ser Marginal (2014, dir. Guilherme Leão, Izabella Feitoza e Maria Moraes)
Cidade Líquida (2015, dir. Laís Araújo)
Liberdade, Liberdade em Maceió (2015, dir. Fabiana de Paula e Wladymir Lima)
Quem tem juízo resiste e luta (2015, dir. Marcos Ribeiro Mesquita  e Codireção: Simone Maria Hüning)

Sandrinho: o culpado de todos os crimes (2015, dir. Manuela Felix)
À espera (2016, dir. Nivaldo Vasconcelos e Sônia André)
Angelita (2016, dir. Jéssica Patrícia da Conceição e Mare Gomes)
Admirável Mundo Destro (2018, dir. Luiza Leal)
Um Fato, Várias Lentes: 17 de Julho (2018, dir. Bruno Fernandes e Camila Costa)
Joana Gajuru: de guerreira a rainha (2018, dir. Marta Moura)
À espera de um milagre: relatos de sonhos perdidos de frente para a lagoa (2019, dir. Géssika Costa e Vitor Beltrão)
Caminhando e Cantando (2019, dir. Júlia Maria)
Marcas de Expressão – O Reflexo da Vida nas Ruas (2020, dir. Luan Macedo e Valesca Macedo)
O Que Meu Corpo Fala (2020, dir. Valéria Nunes e Glauber Xavier)
Relato Número Um (2020, dir. Elizabeth Caldas)
Penetravelocidade: Maceió habitada-penetrada-invadida por corpos performáticos (2021, dir. Aline Silva) 

Filmes com direção coletiva

Saltos e Passos (2012, dir. Larissa Lins, Leyliane Vasconcelos, Yasmin Januário e Victória Mendonça)
Monstro que Nada (2015, dir. André Felipe, Dinah Ferreira, Fabbio Cassiano, Jasmim Buarque, Joesile Cordeiro, Paulo Silver e Thiago Melo)
Bumba Meu Jaraguá (2015, dir. Ydá Pires, Roseane Monteiro, Lara Martiliano, Leonardo Jorge, Jéssica Patrícia da Conceição, Herbson Melo, Emerson Pereira, Amanda Madeiro e Amanda Duarte)
Segunda Feira (2016, dir. Olga Francino, Iasmyn Sales, João Marcos Alves, Camila Alves e Leandro Alves)
Onde Você Mora? (2017, dir. Ísis Florescer, Andressa Lopes, Danyelle Paixão, Débora Delduque, Fabbio Cassiano, Jediael Gerônimo, Karina Liliane, Leonardo Santana, Roseane Monteiro)
Corpo D’água (2018, dir. Aline Alves, Camila Moranelo, Dávison Souza, Elizabete França, Isadora Padilha, Ítalo Rodrigues, Marina Bonifácio, Marcella Farias, Maykson Douglas e Nycollas Augusto)
Mané (2019, dir. Arlindo Cardoso, Karina de Magalhães, Lucas Cardoso e Paula Fernandes)
Colapsar (2019, dir. Amanda Môa, Juliaana Barretto, Luiza Leal, Mayra Costa, Reginaldo Oliveira, Renah Berindelli, Renata Baracho e Valéria Nunes)
Visão das Grotas (2020, dir. Agnes Vitória, Ewelyn Lourenço, Josias Brito, Letícia Cabral, Mariana Alves, Maysa Reis, Rafaela Oliveira, Tauan Santos e Wallison Fidelis)

Outras obras audiovisuais com criação coletiva

Festa nos Recifes de Coral (2020, dir. Luana Carolina)
Pílulas Poéticas (2020, por Cia do Chapéu)

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Sobre Larissa Lisboa
É coidealizadora e gestora do Alagoar, compõe a equipe do Fuxico de Cinema e do Festival Alagoanes. Contemplada no Prêmio Vera Arruda com o Webinário: Cultura e Cinema. Pesquisadora, artista visual, diretora e montadora de filmes, entre eles: Cia do Chapéu, Outro Mar e Meu Lugar. Tem experiência em produção de ações formativas, curadoria, mediação de exibições de filmes e em ministrar oficinas em audiovisual e curadoria. Atuou como analista em audiovisual do Sesc Alagoas (2012 à 2020). Atua como parecerista de editais de incentivo à cultura. Possui graduação em Jornalismo (UFAL) e especialização em Tecnologias Web para negócios (CESMAC).

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