[Carta] Breve diálogo sobre a escrita crítica em Alagoas

Texto: Larissa Lisboa

“Você só é livre quando percebe que não pertence a lugar nenhum — você pertence a todos os lugares.” Maya Angelou

Em 2015, o Festival de Cinema Universitário de Alagoas, hoje Circuito Penedo de Cinema realizou a oficina de crítica cinematográfica com André Dib, através da qual foram produzidos os primeiros textos críticos neste ciclo recente da retomada de mostras e festivais em Penedo.

O Sesc Alagoas inspirado na realização da oficina de crítica em Penedo, propôs a realização do Laboratório de Crítica Cinematográfica em 2016 em Maceió, também ministrado por André Dib. Além de ter como resultado a produção de textos sobre os filmes exibidos na VII Mostra Sururu de Cinema Alagoano, o encontro entre os participantes do Laboratório e André Dib, que além de crítico, curador, pesquisador, também é cineclubista, desaguou na construção do Mirante Cineclube.

As pessoas que compõe o Mirante Cineclube estão desde 2017 empenhadas em dar continuidade ao Laboratório de Crítica Cinematográfica, que teve edição realizada sem recursos pelo próprio cineclube em 2017, teve outra edição custeada pelo Sesc em 2018, e foi incentivada pela Mostra Sururu de Cinema Alagoano em 2019 e 2020.

Em paralelo, e de forma voluntária, Leonardo A. Amorim e Janderson Felipe (que também são membros do Mirante Cineclube), tomaram a iniciativa de realizar a cobertura do Circuito Penedo de Cinema 2017. Janderson Felipe retornou em 2018 e realizou a cobertura do 8º Festival de Cinema Universitário de Alagoas, neste momento com apoio do evento.

Infelizmente em 2019 a cobertura do Circuito Penedo de Cinema foi inviabilizada. Apesar do desejo de seguir cobrindo o evento, não tivemos condições de garantir naquela edição a ida de algume colaboradore voluntárie com recursos do Alagoar. No entanto, a colaboradora Larissa Vanessa compartilhou conosco as impressões sobre os filmes alagoanos que participaram da 6ª Mostra Velho Chico de Cinema Ambiental.

Em 2020, recebemos o contato do Circuito Penedo de Cinema, convidando para que fosse encaminhade algume colaboradore do Alagoar para realização da cobertura. Rosana Dias se disponibilizou a acompanhar o evento presencialmente e realizou a sua cobertura. Recebemos com imensa alegria em 2021, mais um convite do evento para desta vez encaminhar dois colaboradores para acompanhá-lo, Rosana Dias se disponibilizou a retornar e acompanhar o 14º Festival de Cinema Brasileiro de Penedo e Emanuella Lima se propôs a acompanhar o 11º Festival de Cinema Universitário de Alagoas. (textos que podem ser acessados por esse link.)

Trazer aqui essa breve retrospectiva é uma forma de reconhecer e agradecer todes que somam e seguem somando com a escrita crítica em Alagoas, colaboradores, instituições, escritores, leitores, divulgadores e comentadores.

Em específico foquei aqui na forma como eu vejo o desenrolar desta breve trajetória, que tem início com a realização de uma ação formativa que pautou a escrita crítica em Penedo, porque foi a partir dela que o meu olhar para a necessidade de estimular a persistência da escrita e da formação crítica se configurou. No entanto, esta é apenas uma das possíveis formas de dialogar sobre isso.

Tanto pode haver ações inclusive que eu desconheço em Alagoas, como estou optando aqui em não falar sobre ações formativas de escrita crítica que foram realizadas fora de mostras e festivais como o Curso de Crítica, ministrado por Felipe Benício, realizado em 2019 pelo Sesc Alagoas e a Weboficina de Crítica Cinematográfica ministrada por Rosana Dias, Dayane Teles e Larissa Lisboa. Também opto por ainda não abordar a Oficina de Crítica de Arte, ministrada por Guilherme Miranda, dentro da programação do Festival Alagoanes realizada em 2021 pelo Alagoar.

Sinto e me permito apontar outras ausências que desencorajam a escrita crítica, em sua maioria provocadas por recursos restritos, o que impacta na condição da realização de mostras e festivais, quando não os inviabiliza. É recente a previsão de recursos via editais de incentivo para a realização de Mostras e Festivais em Alagoas, acredito que o Edital de Audiovisual de Maceió 2019 foi o primeiro. 

Arapiraca, Teotônio Vilela e Junqueiro são cidades nas quais foram realizadas mostras que divulgamos pelo Alagoar nos últimos anos, mas nenhuma delas teve cobertura crítica, como desconheço que estas cidades ou outras tenham previsão de realizar mostras ou festivais a curto prazo. Relembrando os contemplados nas linhas de festivais de pequeno, médio e grande porte do Prêmio Elinaldo Barros, reforço que o Festival Alagoanes, a III Mostra Quilombo de Cinema Negro e Indígena, o Circuito Penedo de Cinema 2021 e a 12ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano estão entre os contemplados. Há também outros três Festivais contemplados que não sei se já foram feitos ou quais são.

E ressalvo que entre as faixas do Prêmio Elinaldo Barros não havia nenhuma que incentivasse a realização de ações formativas, o que é incoerente no cenário de Alagoas que não dispõe de curso técnico, especialização ou graduação em Audiovisual. 

Tive o privilégio de acompanhar enquanto produtora cultural em audiovisual as aulas de quatro edições do Laboratório de Crítica Cinematográfica, de vivenciar o curso de crítica, e o curso de crítica de arte. Também tive a alegria de ser uma das instrutoras da Weboficina de Crítica Cinematográfica a convite de Rosana Dias.

Sou testemunha das sementes que foram cultivadas e que germinaram através destas vivências, assim como pode ser acessado também através dos centro e trinta e sete textos produzidos sobre filmes alagoanos pelo Laboratório de Crítica Cinematográfica. E dos textos que estamos publicando criados pelas participantes da Weboficina, e das coberturas e textos que recebemos pela chamada aberta também.

Mantemos no Alagoar uma chamada aberta, e nos alegramos em perceber que ela está sendo ativada e que textos sobre o cinema brasileiro e cinema alagoano estão surgindo de forma espontânea com mais frequência.

Mas ainda falta diálogo. Talvez seja mais fácil não se dar conta do peso do silêncio. Sem dúvida é mais confortável não ousar desagradar alguém. A luta contra o apagamento da nossa memória cultural precisa ser renovada em todas as dimensões, com frequência e persistência. E o aprendizado é diário. Hoje você escolheu acolher aquela pessoa que falou algo que lhe desagradou? Amanhã nós poderemos abrir espaço para acolher aquele feedback sobre o que amamos que questiona a forma como o valorizamos? A forma que você espera que o outro lhe devolva é livre ou é na sua medida?

Aprendi que o desafio é pertencer a lugar nenhum, ao mesmo tempo que pertenço a todos os lugares, se é que eu estou falando certo o que Brene Brown abordou em A Coragem de ser você mesmo, mas desprendo também diante da necessidade de agradar e da incansável busca pelo pertencimento. Quebro o silêncio para buscar transformar as angústias em qualquer possibilidade de construção, e assim desejo persistir.

Acesse todas as coberturas que foram feitas peles colaboradores do Alagoar

Reunimos as críticas de filmes alagoanos aqui

Indico a escuta: Descentralização é a temática do oitavo episódio do Fuxico de Cinema, Mostra Quilombo é a temática do nono episódio do Fuxico de Cinema

Sobre Larissa Lisboa
É coidealizadora e gestora do Alagoar, compõe a equipe do Fuxico de Cinema e do Festival Alagoanes. Contemplada no Prêmio Vera Arruda com o Webinário: Cultura e Cinema. Pesquisadora, artista visual, diretora e montadora de filmes, entre eles: Cia do Chapéu, Outro Mar e Meu Lugar. Tem experiência em produção de ações formativas, curadoria, mediação de exibições de filmes e em ministrar oficinas em audiovisual e curadoria. Atuou como analista em audiovisual do Sesc Alagoas (2012 à 2020). Atua como parecerista de editais de incentivo à cultura. Possui graduação em Jornalismo (UFAL) e especialização em Tecnologias Web para negócios (CESMAC).

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