Crítica: Subsidência (dir. Beatriz Vilela e Marcus José)

Texto: Érika Santos

O curta-metragem Subsidência(2020) sintetiza o drama da perda enfrentada por moradores dos bairros Pinheiro, Mutange, Bebedouro e Bom Parto, localizados em Maceió – AL, que estão em situação de abandono. O quadro montado por casas em ruínas e ruas vazias produz no filme um cenário de pós-guerra. A visão desesperada da protagonista desperta em nós um sentimento de injustiça e terror. Além disso, o curta amplia o discurso amargo reproduzido pelos muros e portas que antes carregavam histórias e rotinas construídas anos a fio pelos ex-moradores.

Em vários momentos, o filme denuncia o pesadelo das comunidades afetadas. Mensagens como “impunidade”, “aqui morava uma família” e “sonhos destruídos”, expostas nos muros e portas, demonstram a escolha da diretora pelo silêncio constante e a falta total de diálogo. Subsidência carrega a voz do todo, da vizinhança, das senhoras que limpavam as suas calçadas, dos pais que chegavam exaustos depois de um dia de trabalho, das mães que olhavam seus filhos brincarem nos fins de tarde. O que era vida, movimento, dá espaço à ruína e destruição.

Subsidência constrói uma narrativa com traços distópicos e dialoga politicamente sobre o tema. Isso se mostra evidente quando a protagonista acorda e se encontra presa numa espécie de pesadelo incessante. A partir daí inicia uma busca, correndo entre os escombros, a fim de entender como e por que tudo se fez nada. Desse modo, o curta dá voz aos antigos moradores e utiliza-se dessa voz para denunciar as atrocidades cometidas pela empresa (ir)responsável. Essa transparência no discurso nos leva a questionar, a pedir justiça pelo esvaziamento de metade da cidade de Maceió. Nos faz lamentar a história que agora se faz submersa.

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