Crítica: Feirinha (dir. Maysa Reis)

Texto: Nathaly Correia. Revisão: Leonardo Amaral

DA FEIRA E DA FORÇA

Feirinha (2019), documentário de Maysa Reis sobre as mulheres que trabalham na Feira do Jacintinho, nos traz a visão de quem trabalha de sol a sol na rua, sustenta casa, filhos, a si mesma e – sabe-se lá como – ainda encontra motivos para sonhar e ter esperança.

Tendo sua produção totalmente feita por mulheres (desde a direção, roteiro e personagens que vemos na tela até a produção, fotografia e desenho de som), o projeto se mostra sensível com as várias narrativas por trás do trabalho braçal feito e, muitas vezes, levado de geração em geração pelas feirantes da feira do Jacintinho. Colocadas sempre à margem esquerda da tela, mulheres que parecem ser as principais chefes de família falam sobre suas experiências, o começo do trabalho na feira do bairro, os problemas e afins.

Aqui, senti falta de um aprofundamento em detalhes importantes dessas pessoas: como a mãe que tem vontade de voltar a estudar e que se orgulha de dizer que parou os estudos para que seu filho tivesse direito à matrícula, mas não sem dizer que não se arrepende de ter aberto mão da escola pela gestação aos 19 anos e endossar a importância do estudo na vida do garoto. As perguntas, que podem ser ouvidas baixo sendo feitas às personagens, misturam-se com o barulho dos carros, pedestres e o movimento caótico do local – as mulheres parecem estar muito condicionadas a falar, há pouco espaço para uma espontaneidade, que desenvolveria melhor o raciocínio e o porquê de ser do filme. Fica óbvio demais e, mesmo assim, não vemos os arredores e o quão desafiante é a própria convivência ali, quem dirá o trabalho exercido por feirantes.

O documentário não demonstra que há mais vidas diretamente impactadas por tudo aquilo, um dos pontos que as falas das mulheres do bairro evidenciam: trabalhar na Feirinha do Jacintinho é só uma parte de um todo bem maior. Assim, mesmo tendo uma proposta simples já do início, Feirinha peca por não ir além e apresentar narrativas rasas, numa simplicidade corroborada pela fotografia e montagem, nada que já não tenha sido visto e feito antes, quando poderia adentrar em universos ricos, descobertos já nas falas de quem nos surge na tela.

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