Crítica: Filme_Urgência_Corte1 (dir. Paulo Silver)

Texto: Paula Araújo. Revisão: Leonardo Amaral

Um filme sobre um filme

As engrenagens da cultura foram uma das primeiras a parar por causa da pandemia e do consequente isolamento social. Na prática, sem cinemas, teatros, sem a liberdade de ir às ruas e com o impedimento de executar as produções já programadas, os editais tornaram-se os principais meios de fomento da área, desde meados de março. A corrida pelas premiações exigiu que as pessoas que trabalham no meio cultural produzissem de suas próprias casas, pegando o que já tem pronto ou, se não tivesse, que criassem dali, do zero.

Cineasta, Paulo Silver, diretor de Filme_Urgência_Corte1 (2020), estava inserido na categoria de profissionais que tiveram que parar suas produções por tempo indeterminado graças ao cenário pandêmico. O filme fala de si e de outras pessoas do audiovisual num sentimento coletivo: a aflição. A aflição a cada notícia de aumento de casos da Covid-19 em Alagoas, a desesperança da volta das filmagens tão trabalhadas e planejadas anteriormente, o próprio isolamento, a “obrigação” de extrair ideias de uma rotina enclausurada somada à urgência dos prazos e exigências dos editais, e aos perrengues de produção, sejam eles nas ideias sobre o que fazer, ou tecnológicos, como computador dando problema e a ansiedade com a renderização do filme.

Filme_Urgência se utiliza da metalinguagem. É um filme que fala sobre fazer um filme, só que numa circunstância incomum, às pressas, sem roteiro fechado. Paulo filmou o dia a dia junto com sua companheira, Larissa, durante quatro dias em abril, início da quarentena, época em que o retorno aos seus projetos ainda era uma realidade distante. A sombra da câmera no tripé refletida em uma das paredes do apartamento faz referência ao único cenário possível para produzir algo, já que o mundo lá fora ficou resumido à monotonia da paisagem vista da janela.

O curta é uma obra que recai sobre a realidade de várias pessoas que compartilhavam da mesma agonia, muito bem representada pelas interações, via Whatsapp, de Paulo com seus colegas. Tava, e talvez ainda esteja, todo mundo meio perdido nessa mudança brusca, nessa busca de adaptação forçada do cotidiano, nessa coisa de se voltar ao isolamento e extrair alguma coisa dali para submeter à única luz no fim do túnel que poderia garantir sustento a quem volta sua vida à produção cinematográfica.

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