O que move o seu corpo?

Texto: Aldemir Barros*. Imagem: Divulgação.

Um filme de dança. “O corpo é apenas corpo, no movimento do corpo, o movimento é que se move, a cor é que tem cor no corpo” – parafraseando Pessoa – quanto ao gesto, este possui alma. As expressões no corpo como corda que amarra religião, paisagem, identidade. Cavalo, dirigido pelos cineastas Rafhael Barbosa e Werner Salles, é um longa-metragem alagoano cuja fotografia presenteia a cidade e as histórias ressignificam os lugares.

O filme – que poderá ser visto de maneira online na programação da III Mostra Itinerante de Cinemas Negros Mahomed Bamba (MIMB 2020) de 30 de setembro a 09 de outubro – apresenta sete trajetórias de narrativas corporais que dialogam com a ancestralidade da cidade, profundamente marcada pela presença das águas doce e salgada – das lagoas, da chuva, do mar. Não existe narrador principal, são corpos autorizados, narrativas confiáveis pela apresentação do lugar, origem do movimento, onde distintas experiências se entrelaçam montando o argumento do filme: O que move o seu corpo? Na verdade, Cavalo sustenta-se nas buscas disparadas por esta provocação. Assim, seu enredo apresenta possibilidades de respostas ao expor processos de investigação de cada dançarinx.

Cavalo parte da narrativa feminina sobre a origem do homem na terra e reposiciona o lugar das águas na formação identitária do espaço. Imagens da Lagoa Mundaú – pesca do Sururu e da navegação – convidam a repensar a cidade a partir de outro ângulo; o de quem chega da Serra da Barriga, seguindo pelo Vale do Rio Mundaú até Maceió. Assim, as águas doces ligam o Quilombo dos Palmares a Capital de Alagoas, atualizando diuturnamente a referência à cultura negra, seja pelas práticas religiosas, seja pelas letras de músicas, pela dança, movimentos presentes nos bairros tocados por essas águas.

Um convite para conhecer histórias e formas de resistência, àquelas de protesto marcadas por críticas sociais reivindicando espaço em políticas públicas, com força narrativa – letra e dança –, aquelas mais sutis quando a resistência é o simples fato de se fazer presente. São possibilidades de existência que alicerçam o filme, pois seus diretores lançam mão de algo já presente no cotidiano dxs dançarinxs. Dessa forma, o filme assume uma narrativa documental que, talvez pela estética poética na forma, adquira contornos ficcionais. Encena-se o cotidiano de práticas ainda invisibilizadas – mas tão presentes nas periferias – como recurso narrativo para apresentar essas vivências.

Um filme/espetáculo de dança sobre um lugar anfíbio (terra/água) concebido de forma híbrida (documentário/ficção). Cavalo contribui para a construção de um novo olhar sobre a presença negra em Alagoas. Um belo presente, pelas paisagens e trajetórias.

 

Serviço:

O quê: Exibição online do longa-metragem Cavalo na programação da III Mostra Itinerante de Cinemas Negros Mahomed Bamba (MIMB 2020)
Onde e quando: De 30 de setembro a 09 de outubro, pelo endereço https://www.videocamp.com/pt/campaigns/452?playlist_id=85
Acesso gratuito
Mais informações: www.cavalofilme.com.br |Instagram: @cavalo_filme

*Aldemir Barros é professor do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Alagoas.

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